sábado, 3 de setembro de 2016

Viés


Que tal se a gente parar de prestar atenção no que as pessoas estão vestindo, que carro estão dirigindo, com quem dividem a cama. E se a gente prestar a atenção no caráter, no amor que esta pessoa tem para dar e receber. Sim, tô meio hippie hoje, eu sei, mas não é só isso, tenho filhas e sou responsável para tentar passar para elas o que realmente fica, o que vale. As vezes tenho a sensação que no tabuleiro do mundo minha geração pegou uma carta azarenta do tipo: agora volte dez casas e fique sem jogar duas rodadas. Tem me dado uma preguiça enorme de lidar com pessoas, coisas e situações absolutamente radicais, como se não houvesse mais cinza. Só o preto no branco. Donos de muitas regras e sem nenhuma exceção. Donos de cargos e projetos super cool, de insights que você nem entendeu direito mesmo do que se trata. Tempinho atrás eu tinha até algum saco. Hoje não tenho mais tanto.
Conversei hoje pelo telefone com meu pai, que vem se recuperando de uma cirurgia que o deixou bem debilitado. Ele tem oitenta e alguns. Me falou que, ao chegar nesta idade, depois de tanta gente próxima, amigos mesmo ele conta com uma mão só. Falei pra ele que tenho a mesma sensação mesmo sendo bem mais nova que ele e que acho que é assim mesmo, sem dor no coração. A gente é assim. As vezes, mesmo gostando muito das pessoas, não damos a atenção que deveríamos dar, ou seja, toda. Se tenho alguma coisa que desejo a mim mesma é muita iluminação nesta vida pra gastar meu precioso tempo aqui neste planetinha com pessoas e coisas que olhem mais pra frente do que pro umbigo, que sejam generosas nos sorrisos e nas idéias. Que sejam curiosas e simples. Que sintam dores e ódios como qualquer ser humano mas não gastem seu tempo nem meus ouvidos pregando este mal humor . Há que se recuperar uma elegância. Um saber a hora de falar e a hora de calar. Da gentileza sem segundas intenções, a gentileza por ela mesma, suprema elegância. E pra finalizar este texto de forma positiva, me orgulho sim de ter alguns amigos muito, muito elegantes na maneira de pensar mas principalmente, na maneira de agir.

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