segunda-feira, 20 de março de 2017

Um amor, uma árvore.



Hoje de manhã, quando eu estava caminhando  comecei a reparar nas folhinhas verdinhas que estão começano a brotar aqui e ali. Uma delicia pensar que tudo que está cinza vai ficar verde de novo. Lembrei de uma história verdadeira e linda.  Poul é um dinamarques de mais de oitenta anos que conheci há três anos atrás. Uma daquelas pessoas que a gente tem uma afinidade imediata, como se o conhecesse a vida inteira. Era uma reunião de familia, parentes do meu marido. Estavamos passando uns dias na Dinamarca e fomos convidados para um almoço na casa do Poul e Grethe,sua esposa.  A casa deles era um daqueles tipicos sobrados europeu de cem anos atrás com pé direito alto, assoalho de madeira de tábuas grossas e barulhentas, velhas fotografias amareladas na parede: filhos bebês, netos bebês, noivas sorridentes em preto e branco, um antepassado bigodudo e bravo. Nas mesinhas, as toalhas de crochê em baixo de uma prataria já gasta, de tanto polimento. Na cozinha, pilhas e mais pilhas de louças de cores, tamanhos, idades diferentes. Gerações de louça empinhada um grande armário de madeira escura.
Na parte dos fundos desse sobrado, um enorme gramado. Era verão, nós e toda a familia do Poul se espalhou naquele quintal. As crianças jogando futebol, primos cuidando da grelha. Eu feliz da vida de estar em um jardim no sol fraquinho dinamarques, peguei meu copo de vinho e sentei em baixo da única arvore daquele quintal.  Uma árvore enorme, linda e estranhamente escorada por um cabo de aço que a segurava em pé. Fiquei observando a engenhoca de aço e percebi que a árvore tinha sofrido algum problema mas que estava viva e florida.
Poul se aproximou e educamemente perguntou se podia sentar comigo no banco. Claro que sim.
Perguntei sobre a árvore, o que tinha acontecido com ela?
Então Poul explicou. Quando casou com Grethe estavam os dois jovens procurando uma casa para morar. No minuto que entraram pelo portão da frente, Grethe viu a árvore e se apaixonou. O engraçado diz Poul sorrindo, que ela nem quis ver a casa, os banheiros, a cozinha. Já tinha escolhido. Era aquela árvore com a casa junto.  Viveram a vida toda no casarão, tiveram seus filhos e netos naqueles quartos. Um dia um raio caiu bem na árvore, ela foi eletrecultada e tombou. Um desastre. Poul então imediatamente amarrou um pesado cabo de aço no tronco, o levantou e escorou.  Uma operação quase militar disse ele. Dias de trabalho duro. A árvore estava claramente morta mas ele, inconformado, colocou-a de pé. Passaram alguns anos até uma timida folhinha verde brotar no tronco chamuscado. Nem mesmo ele acreditou, me disse. Na primavera daquele ano, a árvore inteira se encheu de folhas.
 Poul, sentado ao meu lado,  sem saber muito bem quem eu era, me contava tudo aquilo como velhos amigos, ele tinha e tem o maior orgulho da sua árvore ressucitada.
Esta história não saiu mais da minha cabeça. Gostei tanto do jeito que Grethe escolheu a casa, ou melhor a árvore da sua vida. E mais ainda como, por amor, Poul  levantou a árvore do chão, mesmo todo mundo falando que não ia sobreviver.  Ano passado soube que Grethe faleceu. Eu nem conheço Poul direito mas mas gosto muito de imaginar que ele a tem por perto quando senta naquele banquinho e olha sua árvore.

Um comentário:

  1. Denise Dimitriadis20/03/2017, 16:35

    Trouxe lagrimas aos meus olhos esta historia do Poul e da Grethe tão bem contada por voce. Linda história.

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