- Bonita esta sua blusa, nunca vi você vestir.
A filha responde com olhar entediado de quem tem 15 anos, com fome, para a mãe que já não sabe mais nada sobre o mundo: - É claro né mãe, tava inverno até ontem aqui na Suíça, como você quer que eu use esta bata?
A doce resposta após meu elogio. A bata que ela vestia era uma bata meio hippie, com um rendado bem brasileiro, branca,leve. Grande contraste comparado ao que estávamos vestindo durante todo o interminável inverno.
Pausa silenciosa e ruído de mastigação rápida na cozinha.
Logo ela quebra o silencio com o informação para a mãe completamente desatualizada no mundo. - Mãe, sabe que agora ser da America Latina é cool?
- Como assim cool? perguntei eu já com o medo de outra resposta doce.
- É mãe, quando a gente chegou aqui, cinco anos atrás, ser latina era uma porcaria. Agora todo mundo acha legal, todo mundo quer ir pro Brasil, quer conhecer o Chile, Peru, Argentina. Ser latino meio que tá na moda aqui.
- Que bom filha, acho interessante estes modismos, mesmo neste momento tão desgraçado de America Latina..melhor então a gente aproveitar a onda. Mas porque você falou isso?
- Ah sei lá, to percebendo.. e tem a bata mãe, hoje na escola não teve uma menina que não veio me perguntar onde comprei esta bata. Todas estas coisas tão super na moda.. acho engraçado também. Antes ser brasileira era bem ruim, agora não mais. Vai entender..
O papo acabou. A filha subiu escadas com seu iPhone e fechou a porta. Eu fiquei pensando na bata, na moda, na lama que estamos chafurdando no Brasil. Nos adolescentes Europeus achando o máximo a America Latina. Como uma nova Berlin oriental atrasada com muro e tudo, como uma China sedenta pós comunismo, uma ex-União Soviética explodida em mil países. Uma curiosidade pelo caos, pela beleza não domada e organizada, um interesse por um lugar onde tudo ainda tem que ser feito. Vai ver é assim que o mundo se equilibra. Tomara.
créditos da bata: presente da sempre elegante tia Maria Inez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário