quinta-feira, 30 de abril de 2015

Farinha do mesmo saco


Levei um balde de água fria, um soco de direita, uma rasteira e doeu. Mas não sou a única. Vou explicar.
Estes dias estava fazendo um trabalho voluntário para a prefeitura de Basel. Um evento bacana. A cada três meses, a prefeitura aluga um grande barco para navegar pelo Reno por uma hora e convida todos os novos moradores estrangeiros, aqueles que vieram com contrato para  trabalhar em Basel. Neste barco é oferecido um coquetel e vários estandes oferecem serviços e informações para estas famílias recém chegadas. O objetivo é ajudar o imigrante a se sentir menos perdido e com isto, facilitar  a adaptação.  Eu estava trabalhando no estande de integração, explicando para os convidados sobre alguns passeios e eventos que existem de graça para a família se integrar a rotina da cidade.  Neste barco especificamente, a grande maioria eram de novos imigrantes que falavam línguas românicas, até por isto fui chamada. Conversei com mexicanos, italianos, brasileiros,espanhóis e franceses recém-chegados, a maioria com aquele olhar  de curiosidade e pânico tão comum aos novos imigrantes.   A minha chefe neste trabalho é uma americana que se dedica a este processo de integração há muitos anos. Uma mulher culta e bem relacionada, é consultora da Novartis, Roche e outras grandes empresas locais.  Enfim, uma profissional de respeito.
Já no fim do trabalho, o barco chegando ao cais, lá fora um fim de tarde lindo, começamos a conversar sobre diferentes assuntos e comentei com ela que eu tinha achado este barco com menos convidados do que das outras vezes que já trabalhei e que talvez poderia ser pela nova política de restrições a imigração que a Suíça aprovou no ano passado.
A resposta dela foi num tom de quase cochicho como revelando algo que só nós poderíamos entender: - "No, no.  the boat is crowded, but they`re all Latin people here, and Latin people hates informations, they only love parties, so they`re all out side, at the deck, having a drink"  (não,o barco está lotado. é que são todos de origem latina, e latinos odeiam informações, eles gostam é de festa, tão todos tomando um drink no deck)

Na hora senti meu sorriso cair do rosto e junto a admiração por ela. Respondi um inaudível - ahã, ok... e fui arrumar minhas coisas.  Fiquei confusa pensando se ela, por algum momento, tinha lembrado que eu era brasileira, portanto, latina e que estava trabalhando para ela, sem ganhar nenhum puto, dando informações em três línguas, apesar de também adorar festa e drinks no deck.

Passado a minha  raiva (ela nem percebeu o fora), já no bonde de volta pra casa fiquei pensando que eu faço exatamente o mesmo que ela havia feito. Também acho que Suiço é fechado, alemão é serio e que toda padaria na França é maravilhosa.  Generalizar é uma forma que encontramos de tentar rotular e ao colocar o rótulo ficamos mais calmos e seguros pois sabemos como lidar com a situação.

Acho que não dá pra evitar de generalizar, a gente faz isto a toda hora, mas aprendi hoje, na pele, que deve ser um processo íntimo, que jamais deve ser comentado ou exposto. Você vai machucar alguém, pode ter certeza.


ps. mas toda padaria francesa é maravilhosa, tenho certeza.






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