quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Pequenas grandes Bobagens




Das várias coisas que sinto saudades por aqui  é dizer bobagem e morrer de rir. Não que ainda eu não faça isto por aqui mas ficou um pouco mais raro, já que não estou no meu país, entendendo as entrelinhas da língua e lógico, da bobagem.
Falar bobagem em outra língua é para poucos. Em inglês já sei algumas pois tenho duas amigas Inglesas que adoram jogar conversa e bobagens fora e ficam me ensinando as profundezas da língua de Shakespeare. Em alemão não sei nenhuma bobagem e desconfio seriamente que nem tenha.
Mas voltando na saudade. Hoje olhando meu armário do banheiro enquanto escovava os dentes, vi um treco que comprei há duzentos anos atrás e que serve para entortar os cílios . Parece um instrumento de tortura medieval. Um treco que  encosta bem no olho, prende os cílios em uma especie de guilhotina e segura. Os cílios ficam tornos e você fica achando que vai arrasar com aquela curva estranha no olhar.  Lembro que comprei naquele momento mais deprimente e fútil do ser humano que acha que tudo vai mudar na sua vida se você adquirir a bugiganga.
Olhando o treco no armário lembrem da Samira. Samira era da Criação e eu do Atendimento na primeira agência grande que trabalhei. Samira era tímida e quase não falava. Um dia ficamos eu e ela trabalhando até muito tarde na agencia. No silencio da madrugada do nosso andar, Samira de repente se vira pra mim e fala:Adriana, por acaso você tem um botão, agulha e linha para me emprestar? Parei uns segundos olhando pra ela por cima do meu computador e me veio uma vontade de rir das entranhas. Como que um ser humano, que mal olha pra mim, quando fala, pede logo um botão,agulha e linha, uma hora da manhã no escritório? Comecei a rir e a Samira percebeu o absurdo da solicitação e obviamente ficamos rindo histéricamente da bobagem, do cansaço de trabalhar até tarde e da necessidade urgente de ter um botão naquela hora.  Trabalhamos juntas mais um ano na mesma sala, Samira continuava tímida e quieta mas sem que a gente combinasse, iniciamos uma brincadeira entre nós que só a gente entendia e ria: em momentos críticos no trabalho, uma tinha que pedir a outra uma coisa absurda e totalmente fora do contexto e é claro,  morríamos de rir dos absurdos e as pessoas em volta olhavam com cara de interrogação.
Olhando o treco hoje no meu banheiro, lembro da risada que demos na agencia quando em meio ao trabalho urgente, todo mundo estressado,  gritei da minha mesa: Samiraaaa! Por favor, você tem um virador de cílios para me emprestar??








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